sábado, 25 de junho de 2016

Intitulável


Quero seguir com a minha vida
Mas inconstante e mutável sou, vulnerável e desequilibrado estou.


Quero facilitar a minha caminhada
Mas tenso e rígido sou, salgado e azedo estou.


Quero sentir que sou capaz de mudar
Mas medroso e inquieto sou, frio e amargurado estou.


Quero abraçar fortemente o futuro
Mas impiedoso e cruel sou, desconfiado e apreensivo estou.


Quero gritar ao mundo o quanto sofro
Mas silencioso e irracional sou, inconsciente e ausente estou.


Quero sair das amarras da solidão
Mas vago e ambulante sou, desamparado e desprezado estou.


Quero certificar-me que tudo vai correr bem
Mas imprudente e errante sou, enganado e insano estou.


Quero apagar a angústia que trago no meu âmago
Mas melancólico e triste sou, introspetivo e inibido estou.


Quero que o meu sorriso volte a brilhar
Mas impaciente e ansioso sou, sufocado e preso estou.


Quero ser testemunho de uma realidade feliz
Mas sensível e fragilizado sou, enfraquecido e quebrado estou.


Quero ser o antagónico de mim mesmo
Mas desprotegido e desanimado sou, preso e quieto estou.


Doravante,
Conseguirei recomeçar?

Tentarei mas é tão difícil! Aguentar-me-ei? 


terça-feira, 14 de junho de 2016

FIM

Chegaste tu sorrateira, vagarosa e silenciosamente! Vieste e nem dei por ti! Por onde andaste que nem ao perto nem ao longe te vi? Porque decidiste aparecer agora? Porquê agora, pergunto-te eu… Em nenhum momento esperei por ti… Em nenhum momento te desejei… Fiz de ti prisioneiro a minha vida toda mas esqueci-me de ti! Cansaste-te? Agora assombras-me! Achas bem? O teu silêncio assusta-me e fazes com que a minha mente dê voltas sem fim em busca da razão da tua inesperada aparição. Fala comigo, peço-te, fala comigo, explica-me tudo! Anos de batalhas conquistadas, de sonhos realizados, de desejos concretizados e… Num ápice perco tudo? Ganhei tanto para tudo perder?

Justiça, agora chamo-te! Onde andas? Serve-te da tua imparcial parcialidade para vires ao meu encontro. Toda a gente te censura e critica porque para fazeres o bem, o mal tens que provocar! Auxilia-me e esbanja a tua sabedoria… Serve-te das tuas normas para sancionar quem em mim provocou danos. Não é esta a tua função? Também não me ouves, pois não?

Eu não pedi nada mais do que aquilo que merecia, não reclamei nada mais do que aquilo que me pertencia, não desejei nada mais do que aquilo que me era permitido desejar. Eu não pedi nada que não estivesse ao meu alcance e agora pregas-me uma partida dessas? Diz-me que é mentira e que não passa de um pesadelo demasiado sombrio, negro e medonho…

Como é que vou aprender a viver contigo? Não conheço outra realidade… Não conheço o mundo nem o que me espera. Conseguirei caminhar sozinho? Tenho tanto medo da solidão, de estar eternamente angustiado e triste… Dói tanto!

Estou cansado de tanto deambular pelo meu amarrotado coração! Estou cansado de vaguear pela minha enegrecida mente! Estou cansado de andar nesse labirinto sem fim em busca de respostas, certezas.

Tantas foram as delícias que me proporcionaste e agora só me trazes sofrimento, mas ao tomar consciência que na vida tudo é assim, é que poderei seguir em frente, sozinho.

Agora sei que tudo, do nada, acaba tal como começou. Uma pálida e estranha sombra paira sobre mim como sinal de que o seu tempo já foi e de que é hora de seguir em frente para começar tudo de novo. Serei eu capaz? Venceste-me agora e eu deixei… Mas espero que um dia seja eu a vencer-te, servindo-me da coerção que a justiça me irá emprestar.


Ó fim, acabaste comigo!