sábado, 26 de setembro de 2009

Olimpo meu

Em mim habita um recanto para os deuses, possuidores da mitologia grega, arcaica e fantasiada, abarrotadas de tão ilusórias lendas, figurações.
Zeus, rei dos deuses, dono das tormentas injustiçadas, aparece-me na penumbra dos meus pensamentos. Hera, rainha do orgulho, dona do ciúme obstinado, intervém nas minhas pegadas oscilantes. Posídon, rei dos mares, dono das ondas navegadas, orienta-me nas minhas duvidosas rotas. Atenas, rainha da guerra, dona da sabedoria ágil, colabora nas minhas incansáveis batalhas. Apolo, rei do sol, dono das superfícies cintilantes, ilumina todos os meus trajectos desconhecidos. Afrodite, rainha da beleza, dona da paixão ardente, faz de mim um amante do amor. Hermes, rei das mensagens, dono dos secretismos aliciantes, alerta-me para as decisões relegadas. Dioniso, rei da festa, dono das diversões sonhadas, purifica o meu lado festivo.
Roucos de tanto silenciar, de uma orla lá em cima, vigiam os grandes feitos, atenuam as grandes catástrofes; concedem sonhos lúcidos e acordados, abrandam as vigílias mais temíveis; floreiam os mais aureolados jardins, palitam quem os renega.
Quando felizes, o céu tremula, quando tristes, a tempestade flui; quando satisfeitos, o sol fuzila, quando enraivecidos, os ventos zunem; quando melodiosos, as seitas deslizam, quando monótonos, os dias apáticos ficam.


sábado, 19 de setembro de 2009

Estimulante sonho

A promiscuidade passou pela tua mente recatada, pensamentos repletos de amaldiçoados desejos, ofegantes e cobertos de tão acertadas convicções. Os teus olhos acarretados de famintos anseios saltitavam, rodopiavam e nada os fazia descontinuar desse entretenimento coberto de charme, pois a sua inocência converteu-se numa só vontade. Os teus lábios delineavam calor ardente, ternura apaixonante e sorriso humedecido, portavam todos aqueles secretismos acanhados que, junto do meu ouvido, faziam arrepiar todo o meu tiritante corpo. Juntos, presos, aglomerados, unidos por uma paixão irracional, nossos corpos formavam uma só singularidade, uma silhueta abarrotada de gestos sedutores mas subtis e olhares fogosos mas discretos. Um clima erótico, excitante e ardente, onde num roçar de corpos os membros escorregavam porém ficavam sempre entrelaçados, contíguos nesse amor tão almejado, tão puro. Frases quentes se trocavam pelo ar, gemidos silenciosos se pairavam em nossos ouvidos, olhares explosivos se debruçavam em nossos entendimentos, mãos húmidas se agarravam em nossos corpos despidos e contornados por uma brisa suavizada mas quente, com uma chama capaz de se abolir. Com duração infinita, perdemo-nos numa loucura eloquente, suspirada e transpirada, continuávamos com o roteiro pelos nossos físicos, percorrendo todos os caminhos inexplorados, todos os recantos desconhecidos sem que o cansaço saturado prevalecesse sobre as nossas vontades.


sábado, 12 de setembro de 2009

Oh minha natureza

Oh minha natureza! Majestosa e grandiosa, rica e poderosa, possuidora de uma sabedoria infindável, minha musa, minha fonte de inspiração. Simples e sã, nunca atraiçoas, és tu, sem dissimular factos, embora adores lançar equívocos ao ar, sem elucidação perceptivel. Portadora de reconhecimentos e feitos, arca mais sumptuosa do mundo, guardadora de secretismos e riquezas, esbanjas frescura e melodias pelas tuas infinitas e doces brisas. Rainha mais clássica de toda a história, mãe de todas as espécies animalescas, és a protagonista de todas as fábulas e contos, dona de montes e vales, riachos e ribeiras, árvores e plantas. Deusa harmoniosa, pintura mais bela de todas as artes, retratas o som que as tuas ventanias emitem ao diversificar estações, ao mudar cenários e ao alterar cores. Inovadora e decidida, perfeita e libertina, misteriosa e surpresa, estás sempre em sucessão de mudanças aprazíveis e gentis, não fazes barulhos e não percebo os teus progressos. Oh minha natureza! Em ti me deixo embeber, deleitando-me nas tuas místicas capacidades e genuínas faculdades. Em ti me revejo, em ti habito, em ti adormeço, delirando com as tuas valiosas revelações.


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Palavras tingidas

As palavras dispersam-se. São levadas pelos ventos ferozes e brisas mitigadas, pelas marés buliçosas e ondas aquietadas. As palavras esvoaçam. Partem sem nunca avistar o seu retorno, indo-se em prodigiosas embarcações, sem nunca desenhar o seu rumo. As palavras ouvem-se. Mesmo sem serem pronunciadas, os ruídos hiperbolizados de cada uma escutam-se nos mais calados lugares. As palavras aquecem. Acalentam os mais resfriados medos e amansam os mais fantasmagóricos pretéritos, nunca anunciando o seu desfecho. As palavras magoam. Ferem com as suas castigadas vontades e amaldiçoadas verdades, debruçando-se nas mais fragilizadas almas. As palavras sorriem. Brilham sobre rostos contentes e sorrisos emoldurados, mesmo que sejam o compasso de um pranto apaziguado. As palavras murmuram. Suspiram as tão acertadas e incertas vozes, desejando a verdade que embora longínqua, ambicionam a sua vincada presença. As palavras lembram. Recordam os mais inesquecíveis feitos, apontando as mais rudes lembranças. As palavras sentem-se. Sensibilizam os mais tremidos apaixonados e comovem os mais renhidos enamorados, oferecendo a possibilidade para a mágoa e a amargura ficarem suspendidas nas adormecidas ilusões. As palavras cheiram. Perfumam os mais repugnados vocábulos e pulverizam os mais aromáticos termos, contagiando frases odoríferas.