quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tenho medo!

Tenho medo, diversos medos incapazes de se atenuarem!
Tenho medo de ter medo! Tenho medo de temer, recear e de suspeitar algo!
Tenho medo da mediocridade humana que se vulgariza cada vez mais, da sua intolerância, da sua impaciência e da sua denegrição.
Tenho medo e diversos temores!
Temo as viragens, as mudanças, as transformações que se possam cingir nesse mundo tão trivial, tão frívolo e tão desmedido.
Temo viver harmoniosamente com os meus segredos viscerais, temo viver fascinado pelo medo e temo viver com o meu passado refém do meu presente.
Tenho temores e diversos receios!
Receio situações controversas, hesitantes e incertas, por mais que diga que sou o adverso do fracasso, do complexo e do imperfeito.
Receio viver debruçado somente nos meus ignorantes e empobrecidos sonhos, devassando as suas longínquas concretizações.
Tenho receios e dúvidas!
Sinto dúvidas acerca da imperfeição, da desigualdade e da assimetria. Tenho dúvidas em relação aos discursos frios, pérfidos e cruéis, das finalidades dos seus dissimulados remates.
Sinto dúvidas relativamente às minhas demoradas ausências, nessa existência tão dissecada, abominada e tão cinicamente devotada.
Em suma, o meu sonho é devanear pelos meus antagonizados e infindáveis medos!



domingo, 25 de outubro de 2009

Melancólica e entristecida mágoa

Hoje a tristeza é majestade e nela reina os errantes pedaços, derramados pelo meu rosto humedecido. Esvaem-se em lágrimas e como quem o seu salgado saboreia, não coaduna com esta angustiada vivência. Submergindo neste estranho acaso, os gestos enclausuraram-se às amarras da monotonia e os quebradiços sentidos restringiram-se às presas da desconfiança. A solitária solidão sozinha caminha e embebeu-se no debruçado assombro e, por mais que se queira cingir à contente felicidade, a indolência massacra este ansiado desejo. O seu sentido acabou por se apagar e o vazio acabou por se encher… De nada!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Destemida convicção

A minha índole contemporânea vestiu-se de manifestos enaltecidos, difundidos pelos meus gestos incrementados e despiu os acanhados controversos, regozijando os enraizados enganos. A vicissitude de me engrandecer deixou-me esperançoso e converteu-me num ser inexorável, visando o alcançado mérito e avassalando o mordaz passado. Num plural de tempos, as minhas convicções ficaram aquém do meu iludido pensamento e medraram em função dos meus comungados anseios, despedindo-se da minha ingénua audácia. O adverso das minhas dores mudas atingiram a voz cabal e na imensidão de um paraíso distante, brotou o meu lúcido expressar.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Estrela mestra

Outrora, numa noite magoada, delineei o choro das estrelas, esmagadas pelo sopro estranho das ventanias que as faziam zunir. Murchadas e entristecidas, dispersaram-me subitamente pelo ar, com um presente arruinado e um destino assolado, indo ao encontro de um mar tão incrivelmente apaziguado e rude, simultaneamente. Aquela luz cintilante desaparecera ao mergulharem naquela água tão obscura, os seus ledos risos escassearam-se e os seus gestos de pura formosura ficaram incutidos naquelas correntes tão balanceadas. Cansadas daquele trajecto tão assimétrico, marearam ao sabor da ondulação inquieta, desfalecendo contra o meu areal, vigorosamente, acabando por fragilizar os seus tão autenticados contornos. Do meu refúgio observara-as atentamente, vendo todo aquele penoso percurso, vendo aquele final tão desenhado mesmo antes de começar. Caminhei até junto de uma e de tão amedrontada que estava, ocultou o seu tenebroso e acanhado rosto, o seu corpo tremelicava e os seus olhos semicerram-se. Com um gesto de proeza meu, peguei nela e acarretei-a no meu bolso, até ao meu esconderijo, acabando por enrolá-la no meu caloroso lençol. Ficou contígua ao meu corpo, produzindo mutuamente o ardor que tanto precisávamos e em mim, ficou tingida de novo aquela luminosidade que tanto ambicionava.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Tornei-me

Tornei-me no que nunca havia sido, numa imagem emoldurada, num retrato ornado e numa figuração adereçada, recolhendo apenas as partículas salutares e assimilando os fragmentos desditosos.
Tornei-me no que sou hoje, devido às adversidades que o meu pensamento anunciava, renegando os preferíveis e indulgentes progressos face à minha magoada e ferida alma.
Tornei-me numa representação ofuscante, suprimindo as verdades falseadas e espelhando o meu renovado e inovado ser.
Tornei-me numa posteridade endereçada, agregando o meu arcaico passado e cingindo o meu ingénuo presente, sustentados pelos meus anseios enigmáticos.
Tornei-me, no melhor de mim mesmo.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Felicidade emprestada

Retirei do meu bolso sorrisos cheios de gargalhadas joviais e alegres, cheios de vivacidade e genica e, espalhei-os pelo meu céu amanhecido, claro e límpido, desenhando toda a euforia dos meus genuínos e contentes sentimentos. Retirei do meu olhar toda aquela mágoa entristecida cheia de prantos exaltados e embravecidos, cheios de dor e tristeza e, espalhei-os pelo meu lago madrugado, cristalino e transparente, delineando todo o entusiasmo das minhas autênticas e singulares sensações. Apesar das contrariedades da vida adulterarem o meu caminho, hoje, estou feliz!