terça-feira, 28 de julho de 2009

Mar astucioso

Oh mar, sentado estou eu de frente para ti, a observar-te visceralmente, apreciando todos os teus amovíveis, jorrados, corpulentos e sorridentes choros. Até a mim, envolto do teu borbulhar, trazes todas as palavras ocultas e inacessíveis, dispersas pelas tuas águas engrandecidas.
Oh águas, salgadas e arrefecidas, esverdeadas e azuladas, transparentes e cristalinas, carregas contigo todos os desejos vertidos, voluptuosos e densos, na ânsia de serem ouvidos no mar alto, desejando que o antagónico não seja trazido na desfalecida e serena maresia.
Oh maresia, espumante e esbranquiçada, irrequieta e excitada, ténue e delicada, presencias todos os acarretados sonhos, abarrotados de iludidas veracidades, desejando que sejam retratados conforme te pediram e tu, como certa e autêntica que és, trá-los diluindo-os na ensopada e fresca areia.
Oh areia, prateada e dourada, elegante e espessa, sossegada e plácida, guardiã das mais profundas fantasias, suportas todos os segredos que o mar omite, acartas com as mais pesadas marés e em ti, tudo te assenta, tudo te molda e tudo te enterra, mesmo que as embravecidas ondas te desrespeitem.
Oh ondas, balanceadas e osciladas, brandas e perturbantes, avultadas e exíguas, nada te faz amedrontar, fazes naufragar e fazes encalhar, fazes boiar e fazes flutuar, fazes ondular e fazes serpentear e mesmo assim, nada te impede de actuar, mesmo contra as tuas vontades, deixas para trás os dissabores das embebidas lembranças e trazes contigo o sabor das mergulhadas vivências.


sábado, 25 de julho de 2009

Aflições pontapeadas

Levaste o que de pérfido tinha…
Os meus tormentos perdidos nos demais desencontrados encantos, aqueles que faziam estremecer toda a minha espiritual anatomia;
Os meus silêncios dispersos pelos gritantes vozeamentos, aqueles que faziam estrondear toda a minha mística alma;
Os meus choros espalhados pelos errantes sucedimentos, aqueles que faziam amedrontar toda a minha genuína idealidade;
Os meus pesadelos encalhados nas demais iludidas maresias, aqueles que faziam espantar todo o meu adormecido subconsciente;
Os meus suplícios esbarrados nos demais concedidos céus, aqueles que faziam pasmar toda a minha atrevida curiosidade;
As minhas complexidades diluídas pelas amarguradas tempestades, aquelas que faziam assombrar o meu escurecido pretérito;
As minhas tristezas dissolvidas pelas derrubadas palavras, aquelas que faziam apavorar toda a minha enriquecida imaginação;
E, o peso da minha cadenciada consciência… Foi-se, até ela foi de mão dada contigo, sem hesitar
Obrigado!
Obrigado por teres posto o meu sorriso novamente em constante movimento!


terça-feira, 21 de julho de 2009

As mãos sábias

As mãos…

As minhas mãos…

As mãos que contemplam os mais envolventes carinhos, apreciando a modéstia de cada terna afeição.

As mãos que desenham as mais genuínas sensibilidades, delineando o esboço de cada autêntica susceptibilidade.

As mãos que tecem os mais consoláveis sonhos, bordando o aconchego de cada ímpar imaginação,

As mãos que moldam as mais silenciosas preces, ajustando o som de cada lamentável súplica.

As mãos que agarram os mais dignificados gestos, segurando o teor de cada engrandecida atitude.

As mãos que acolhem as mais erguidas felicidades, albergando a natureza de cada luminoso júbilo.

As mãos que constroem os mais acalentados risos, arquitectando o desenho de cada expansiva gargalhada.

As mãos que estabelecem os mais alheios limites, celebrando as normas de cada abstracto término.

As mãos que escrevem os mais agasalhados verbos, ortografando as letras de cada embrulhada palavra.

As mãos que oferecem as mais saudosas seguranças, presenteando o enternecimento de cada nostálgica certificação.

As mãos que ferem as mais acariciadas ilusões, castigando a imprecação de cada amaldiçoado engano.

As mãos que suportam os mais humedecidos choros, sustentando a tristeza de cada amargurada lágrima.

As mãos que reflectem os mais singulares amores, espelhando o significado de cada peculiar querença.

As mãos que sinalizam as mais suaves vontades, indicando o caminho de cada deleitoso desejo.

As mãos que transmitem as mais deliciadas perturbações, noticiando o adverso de cada aprazida atarantação.

As mãos…

As minhas mãos…

As mãos de um simples velejador que o que mais admira no mundo, é a sua deliberação em divagar com elas, porém assustadas de enfrentar as mais atrozes veracidades.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estruturado por sonhos

De olhar cerrado vejo os meus sonhos atados ao meu entendimento, debruçados nos meus desejos e incisos no meu querer. Cheios de infinitos enternecimentos, cheios de fulgores momentos e cheios de eternos contentamentos, prometem hilaridade devaneada, pois para alcançá-los é preciso sorrir sem nunca repudiá-los. Sem nunca se esvaírem, viajam sempre ao encontro dos meus fantasiosos delírios, declamando pela inócua alegria e ingénua paixão que residem neles. Assediados pela minha sedutora mente, descortinam de bem longe as mais vastas visões envoltas em brisas místicas, afastando as minhas emaranhadas penumbras porque são elas que pairam assiduamente na minha alma e transtornam o meu modo de peregrinar. Revestidos por exaustiva ansiedade, renegam a passagem aos motivos vazios, aflitivos e nocivos e, assim, o desencanto das avessas ilusões nunca chegam a povoar na minha tão desgostosa realidade.



quarta-feira, 1 de julho de 2009

Destemidos olhos

Quimeras minhas, reféns dos meus tão encantadores sentidos, as mais sumptuosas dos meus tão inquietantes pensamentos porém longe dos meus tão admiráveis olhos.
Esses, vigilantes e curiosos, são eles o adverso do estático, sempre em busca da vivacidade abstracta indo para além do que é imóvel, ganhando coragem para se penetrarem nas mais alheias visões.
Esses, incansáveis e eloquentes, até sorriem de tanto vaguearem pelas mais díspares irrealidades, assimilando o teor dos tão complexos sonhos, cobertos de tão puras veracidades.
Esses, límpidos e genuínos, saltitam nos anseios de quererem nunca acordar, desejando continuar a flutuar no que é fictício, naquilo que a minha mente exprime com o intuito de idealizar as tão surreais reproduções.
Esses, persistentes e lutadores, afastam a tão triste melancolia e a tão amargurada monotonia, desprezando o que é enfadonho e acercando o antagónico das mais fastidiosas realidades e das tão desbotadas ilusões.
Esses, apaixonantes e afáveis, devaneiam na surdez de um acontecimento mas jamais contemplam o rumor do tão fingido mundo, arredando as tão enganosas imagens.
Embora esses se cerrem e emurchecem, a mente ganha robustez acabando por se conectar e viaja instintivamente pelo tão dissimulado mundo, visualizando os mais fantasiados desejosos tornados realidade mesmo que apenas o escuro avistem.