quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Estrela mestra

Outrora, numa noite magoada, delineei o choro das estrelas, esmagadas pelo sopro estranho das ventanias que as faziam zunir. Murchadas e entristecidas, dispersaram-me subitamente pelo ar, com um presente arruinado e um destino assolado, indo ao encontro de um mar tão incrivelmente apaziguado e rude, simultaneamente. Aquela luz cintilante desaparecera ao mergulharem naquela água tão obscura, os seus ledos risos escassearam-se e os seus gestos de pura formosura ficaram incutidos naquelas correntes tão balanceadas. Cansadas daquele trajecto tão assimétrico, marearam ao sabor da ondulação inquieta, desfalecendo contra o meu areal, vigorosamente, acabando por fragilizar os seus tão autenticados contornos. Do meu refúgio observara-as atentamente, vendo todo aquele penoso percurso, vendo aquele final tão desenhado mesmo antes de começar. Caminhei até junto de uma e de tão amedrontada que estava, ocultou o seu tenebroso e acanhado rosto, o seu corpo tremelicava e os seus olhos semicerram-se. Com um gesto de proeza meu, peguei nela e acarretei-a no meu bolso, até ao meu esconderijo, acabando por enrolá-la no meu caloroso lençol. Ficou contígua ao meu corpo, produzindo mutuamente o ardor que tanto precisávamos e em mim, ficou tingida de novo aquela luminosidade que tanto ambicionava.

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