quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Palavras tingidas

As palavras dispersam-se. São levadas pelos ventos ferozes e brisas mitigadas, pelas marés buliçosas e ondas aquietadas. As palavras esvoaçam. Partem sem nunca avistar o seu retorno, indo-se em prodigiosas embarcações, sem nunca desenhar o seu rumo. As palavras ouvem-se. Mesmo sem serem pronunciadas, os ruídos hiperbolizados de cada uma escutam-se nos mais calados lugares. As palavras aquecem. Acalentam os mais resfriados medos e amansam os mais fantasmagóricos pretéritos, nunca anunciando o seu desfecho. As palavras magoam. Ferem com as suas castigadas vontades e amaldiçoadas verdades, debruçando-se nas mais fragilizadas almas. As palavras sorriem. Brilham sobre rostos contentes e sorrisos emoldurados, mesmo que sejam o compasso de um pranto apaziguado. As palavras murmuram. Suspiram as tão acertadas e incertas vozes, desejando a verdade que embora longínqua, ambicionam a sua vincada presença. As palavras lembram. Recordam os mais inesquecíveis feitos, apontando as mais rudes lembranças. As palavras sentem-se. Sensibilizam os mais tremidos apaixonados e comovem os mais renhidos enamorados, oferecendo a possibilidade para a mágoa e a amargura ficarem suspendidas nas adormecidas ilusões. As palavras cheiram. Perfumam os mais repugnados vocábulos e pulverizam os mais aromáticos termos, contagiando frases odoríferas.



Sem comentários: