quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Outono

Perante a invisibilidade e a translucidez das minhas passadas acarretadas de perplexidades outonais, antevejo o trajecto excessivamente preguiçoso de uma humilde folha ao cair numa calçada tão vigorosa e tão rude. Embora todos os sons estivessem minimizados, ouvi o estrondo que a mesma fez quando a sua ramagem a soltou como vestígio de abandono. O vento insuflou-a até mim, fazendo-a percorrer tropeçando naqueles pedregulhos mais salientes e com que os seus delicados contornos fragilizados se pudessem estilhaçar. Voou, saltitou e tomou o rumo que ouvira do assobiar da ventania. Embarcada numa rota tão desenhada inicialmente, amedrontada, guarneceu toda aquela impaciência desorientada embora indesejavelmente e por fim, pousou de um jeito deleitoso e terno no meu ombro, depois de tanto deambular. Dourada e amadurecida, possuidora de uma elegância indiscutível, segregou-me o quão enfadada estava de jornadear com as suas condiscípulas hirtas. Pediu-me para pontapeá-la com a finalidade de ficar aquém de todos os seus receios longínquos e envelhecidos pois já era tempo do seu percurso ter-se extinguido. Tenebrosa mas aliviada, presenciei toda a sua atenuada decadência, a demorada queda e a despedida prisioneira, na ânsia de a encontrar num futuro abreviado.


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