terça-feira, 4 de novembro de 2008

Calor ensopado

Nos arrefecidos salpicos de água que a maresia liberta quando se desfecha contra as falésias ou quando se envolve no areal, encontra-se uma chama ardente inapta de se extinguir, embora uma aragem aprazível tente vir ao seu encontro, em busca de um recolhimento, não consegue apagar tal imagem eloquente.
No ardor de uma brasa ainda incendiada, varro as minhas lágrimas vertidas e incandescentes num presente caloroso, o meu âmago desfaz-se em prantos até fazer-se inundar, encharcando os meus despidos sentimentos desvalidos.
Na brisa fresca que se desmancha em pequenos sopros inquietantes, a minha reminiscência vislumbra-se num espelho lascado, emitindo uma fogueira abolida por um mar de vozeamentos ruidosos, pertencentes a uma canção arrepiante e euforicamente interpretada. Nas analepses rejuvenescidas que o meu entendimento leva até mim, bailo ao som de uma melodia fastidiosa e monótona, saboreando a reprodução de cenas agrilhoadas entre si e na verdade, não há água que faça afugentar a efervescência da minha murchada essência esvaziada que, num plural de tempos, escassear-se-á quando se embeber num mar gotejado de pingos esquentados.



1 comentário:

Anónimo disse...

Fantástico texto! Parabéns Didi!